domingo, 18 de agosto de 2013

What the hell are you?

True Neutral to the Core.

A expressão "True Neutral" dos "Character Alignments" ganhou um novo significado.
Identidade e disforia de gênero é algo que eu tenho enfrentado faz algum tempo. Se pensar bem, acho que desde eu estava sendo gerada, eu tinha esse fardo em mim. Afinal, nascimento é sempre uma expectativa, certo? Quem nunca viu e ouviu aquelas falas emocionadas "Ah, meu filho/filha vai ser médico/advogado" "vai ser isso e aquilo", que atire a primeira pedra. Acho que todo mundo conhece pelo menos uma pessoa que está fazendo determinado curso na faculdade por quê os pais obrigaram a tal, ou trabalham em determinada área por ser negócios de família.
Pois bem, desde pequena minha mãe me rodeava de bonecas, vestidos rodados, laços e fitas e todas essas coisas tidas como "coisas de menina". A verdade é que eu nunca liguei muito pra essas coisas. Desde onde eu me lembro, sempre preferi sair correndo pra brincar de esconde-esconde, gostava de imitar golpes dos Power Rangers, YuYu Hakusho, soltar Kamehameha... Enfim. Detestava brincar de "casinha". Uma vez eu tentei, na pré-escola, e acabei sendo "o pai". Mas eu não tinha a mínima noção de como era um pai, o que um pai fazia, como um pai agia. Eu não gostava quando minha mãe fazia escova no meu cabelo ou então amarrava ele num rabo-de-cavalo super alto (ela puxava tanto que doía, quando desamarrava o cabelo, parecia que meu rosto iria parar no chão), tampouco gostava de cor-de-rosa. Detestava essa cor. E, consequentemente, desde de que me lembro desses fatos esparsos da vida, bem me lembro de comentários não só por parte de minha mãe, mas também por outras pessoas pouco tinham a ver com a minha vida, comentários esses que sempre seguiam a mesma linha: "Você tem que ser mais mocinha". Minha avó adorava, ou tinha/tem uma obcessão em me comparar com a neta de uma amiga dela. Frases iam desde "Ela sabe tão bem japonês, e você não" até "Você tinha que ser como ela, ela é inteligente, delicada, educada."
Em uma certa ocasião quando eu tinha entre 5 e 8 anos, eu estava em casa, de tarde, assistindo um filme. Se não me engano, acho que era Rambo. Risos. Enfim, lembro de uma cena que ele saiu correndo loucamente na selva, driblando e matando muitos inimigos no caminho, correndo com uma metralhadora. Eu não sei, não entendo, mas eu tinha achado aquela cena tão, mas tão legal, que eu quis fazer o mesmo. Eu, na minha inocência pueril, querendo imitar a cena do filme, peguei um colete de moletom, um cabo de vassoura e saí correndo pela casa assim: Bermuda, colete e cabo de vassoura, imitando o som de tiros com a boca, até que peguei a mangueira de casa, que tinha aqueles jatos que tinham um gatilho pra ativar e acabei molhando a roupa toda. Minha mãe, diante da cena, surtou: "Menina, por quê você tá pelada? Você não pode fazer isso! Você é mocinha! Vai se secar e coloca uma camiseta agora!". Eu então, não tinha entendido o por quê de tanto desespero. Quer dizer então que eu não podia imitar o herói do filme por quê eu era uma menina? Aquilo era legal. Queria dizer então que eu não poderia fazer coisas legais só por quê eu era menina? Mãe insistia em comprar roupas "da modinha" pra mim. Peguei ódio desta palavra. Daí então só me lembro das constantes "suaves" reclamações com meu jeito de ser: "Você anda parecendo um muleque", "você anda toda torta", "você parece um mendigo" (Nota: Usando calça jeans, all-star e camiseta.), "por quê você não usa salto, um vestidinho, uma saia? Tem que mostrar suas pernas". Daí então eu peguei ódio das minhas pernas.
Porém, existem duas fatídicas e cruciais frases: "Você nasceu no corpo errado" e "Eu queria ter uma filha pra ser delicadinha, pra eu poder colocar lacinho e vestidinho, enfeitar, ser mocinha, ser amiga minha."

"Boom!" - No dia que ouvi essas duas frases, algo fez um click e explodiu dentro de mim.
Comecei a odiar tudo que fosse relacionado a feminilidade, a delicadeza, tudo que fosse tipicamente coisa de menina. Bom, nunca fui inclinada para esse lado mesmo, mas nesse dia eu realmente passei a odiar tuodas essas coisas. Odiava a "Identidade Feminina". Odiava o fato das pessoas acharem que podiam me dizer como ser, agir, falar por causa do meu corpo. Não, eu não quero ter cabelo comprido e enrolado só por quê você quer. Não, eu não vou usar salto alto, aquilo me machuca e faz mal pros meus joelhos. Não, não vou usar vestidos e saias curtas, não vou mostrar minhas pernas pra ninguém. Não vou usar rosa. Não vou usar maquiagem. Não vou falar baixinho e fininho. Não vou fazer de conta que sou meiga e delicada, por quê eu não sou.

O tempo passou e essa questão perdeu sua força, mas ainda era algo importante para mim. Afinal, isso diz diretamente respeito a minha identidade, a minha expressão, ao meu jeito de ser. Querendo ou não, todos esses fatores me levaram a uma necessidade de me "expressar visualmente", e claro que isso incluiu a imagem que faço de mim mesmo. O jeito que você se expressa através de vestimentas transmite informações poderosas para quem está ao redor. Roupa, no fim das contas, é só uma materialização de vários conceitos que a pessoa carrega em si. Pelo menos esse é o meu ponto de vista.
Passei por fases e fases, ora tentando me "encaixar/encontrar" no gênero feminino, ora no gênero masculino. Não me adaptava a nenhum deles. Delicada demais pra ser do gênero masculino, agressiva e desprimorada demais para ser do gênero feminino. Não sei quem foi o infeliz que separou adjetivos como sendo próprios e únicos de cada gênero, mas ok. Tamanha era a estranheza, a necessidade de achar um lugar para ficar, que tentei me adaptar. Tentei repetidas vezes, todas frustradas. Fui prosseguindo sendo quem eu sou, porém sentia um desconforto. Eu preciso de conceitos. Preciso contextualizar todas as coisas, inclusive a mim mesma. Parece contraditório, pois ao mesmo tempo que fujo de dois rótulos, eu procuro um para mim. Porém, busco um conceito que me ajude a me definir, a me identificar corretamente.

E agora, eu tenho esse conceito.

Eu sou da parte cinza.
Não sou da parte rosa e nem da azul.
Estou no meio.
Mas posso tender mais para um lado ou para o outro.

And I would like to be treated as I am.
Don't treat me as a woman, because I'm not.
Don't assume I'll behave like a woman, because I'll not.
Don't treat me as a man, because I'm not.
Don't assume I'll behave like a man, because I'll not.
I am neutral. I am Neutrois. I am Gender Fluid. I am myself.
I am a True Neutral. Not Good, Not Evil; Not Lawful nor Chaotic.
Neutral.
To the Core.


---


Would you to like to know more:

http://neutrois.com/what-is-neutrois/
http://genderqueerid.com/what-is-gq
http://neutrois.me/2011/08/19/neutrois/
http://neutrois.me/neutrois/

Nenhum comentário:

Postar um comentário