terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Krisexplicanismo dos sentimentos

Trigger é uma desgraça que tá apontada pra minha cabeça e pro meu coração e quem puxa o gatilho é a sua mão -
desconforto é uma praga que tá amarrada do meu lado na minha vida e quem trouxe ela pro meu território foi a tua presença e a tua alma encardida -
 dor é um dragão rasgando uma espiral dentro dos meus olhos e da minha garganta e quem criou ele foi você e por favor meu nome não é samantha -
tristeza é um vortex maligno e corrompido e quem pôs ele pra funcionar de novo foi um escorpiniano arrogante e metido -
 raiva é uma quimera que confunde e transfigura sentimentos e a razão disso são as tuas ações razões dos meus lamúrios e lamentos -
disforia é uma maldição latente crescente decrescente pungente emergente urgente sempre presente que você não sente e só faz piorar qundo não me reconhece como gente -
agonia é uma batalha do entendimento e do sentimento que me deixa em travamento quando vejo que para você a cisnormatividade das suas amigas legais é maior que a suposta fraternidade por isso te considero um cretino lazarento -
nervoso é um tremor que trepida meus nervos e meus sensos quando me questiono o por que disso tudo e culmina em cicatriz que eu escondo com lenços -
apatia é o entorpe que chega e me diz dorme pois a dor é enorme e a vida vai se arrastar assim e eu foco minha energia não nos outros mas em mim -
reação de rejeição é o que corre dentro das minhas veias e aperta o bater do coração alterando minha respiração e não consigo arrancar esse cancer dentro de mim não pois a rejeição tá em volta de mim e não sei se dá pra separar o eu mesmo de toda essa vivência-experimentação-de-mim-reconstrução -

ressentimento é apunhalada que levo do que deveria ficar lá atras mas parece que isso nem eu nem você é capaz é aquela rainvejamarga que aparece quando você é do jeito que nunca foi comigo com gente cisarrumada -
abismo é onde você chega quando a solidão te segue pra todos os lugares não importa se os amigos continuam perto tentando inspirar novos ares é onde você chega quando não mais se chega ao lugar onde o seu eu humano deveria estar mais deixou de estarbemlá pois alguém entrou lá só pra quebrar e matar e talvez nem esse nada que restou tenha vivido pra ter história pra contar -
desprezo é o que se recebe quando você não se suporta e quer atravessar a porta daí pega a faca e recebe um "só faz coisa idiota" de volta

 Mas eu vou parar de escrever pois eu já percebi que nada escrito vai resolver como nunca resolveu parece que a únca pessoa que lê isso aqui sou eu

 É claro que a culpa é sempre minha pois eu que estou fora da linha não consigo argumentar e só falo ladainha sou muito menos gente que as amiga cis-fofa-menininha já que eu não sou gente eu tenho probleminha: sou uma propriedade de linguagem de computação minha ID=não é válida não, é um bug a ser arrumado não importando se na minha essência eu tenha que ser dizimado -
eu que sou imbecil e a sua fobia é que tá certa, viu?

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Agora, dois poemas

< <Kris > >

A little bit of "Flight"...

Kris stands for all the
(uncomitted) Crimes...

Kris stands for all the
(unforgettable) Cries...

Kris stans for all the
(unforgiving) Cracks...

Kris stands for all the
Burdens
Wrong Assumptions
Broken sistemic ideas
Sadness
Sense of inadequation
Frustration
Agony
I
Carried... until this day

"Krash the Cistem" < < Kris > > 



< < Ayu > > 

A little bit of "Walk"...
Ayu stands for all the
Steps that brought me here.

Ayu stands for all the
Truth I always sought.

Ayu stands for all the 
Paths I built to this day

Ayu stands for all the
Journey I'll go from now on.

It is
a
lone walk of only one
It is the symbol of my
True Will
My Origin.
Going forward...
< < Ayu > >

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Agora eu vi

Meu costume de reler conversar é bom, por que me faz perceber coisas que no calor da discussão, eu não enxergo.

Enfim, a pessoa faz um mansplaining GIGANTESCO e usa do mesmo argumento tosco que é usado pra justificar a homossexualidade: "Faltou à pessoa a presença de uma figura masculina forte".

Gente, socorre aqui, tô tendo um treco.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Não.

Nada expressa melhor um sentimento de negação absoluta do que um simples "não".
Não. Não, não e não.

Tudo dentro de mim é "não".

Definição binária?
Não.
Definição de gênero baseada em aspectos biológicos?
Não.
Pronomes e adjetivos com desinências femininas?
Não.
Roupas como marcação de gênero?
Não.
Hábitos, trejeitos marcados por/marcadores de gênero?
Não.
Nome civil?
Não.
Relações humanas?
O quê? Quase não. Tem pessoas que vale a pena manter o contato ainda.

Não quero.
Não posso.
Não consigo.

Não. Não. E Não.

E não use seu sexismo e explicanismo comigo.
Grato.


domingo, 1 de dezembro de 2013

Sobre o respeito (ou a falta dele)

Algumas pessoas simplesmente não se dão conta.
O "coming out", revelar sua identidade, não é um processo simples. Muitas vezes se torna algo torturante, doloroso, até mesmo agonizante. Fica aquele impasse "mas e se eu não contar, eu não estaria mentindo pra essas pessoas?" (as pessoas mais próximas de nós) contra "Mas se eu contar, será que elas vão se afastar de mim?"
Mas o problema é: Não temos como saber se não perguntarmos. Dá pra sondar, falar por cima, mas a reação das pessoas é sempre algo imprevisível. Você pode até imaginar, mas nunca terá certeza se não perguntar efetivamente.
Acho que o momento que você diz pra alguém sua a sua identidade é como uma roleta russa: Você está apontando um cano de arma para si mesmo. Se o gatilho vai disparar ou não, acaba dependendo da reação da pessoa.
Infelizmente não é só nesse momento que o trigger fica apontando na sua direção. Todo momento de interação com as outras pessoas pode ser um possível momento que o gatilho vai disparar. Tem dias que controlamos isso. Outros dias, não. Basta um artigo, pronome errado e tudo explode.

Algumas vezes acontece das pessoas que sabem da minha ID trans* n-b errarem os pronomes e tudo o mais, e eu acabo relevando. A força do hábito é maior do que a gente pensa.
Mas isso não deixa de ser uma falta de respeito... Acontece que alguns dias eu não quero gastar minhas energias discutindo sobre.

Não tratar uma pessoa trans* pelos pronomes e pelo nome social (o nome que a própria pessoa escolhe para ela) é falta de respeito.
É a mesma falta de respeito de quando alguém te chama por um apelido que você não gosta ou te xingam.
E fica pior ainda quando a pessoa tem resistência ou simplesmente se recusa a te tratar pelo jeito certo.

"Ah, mas deve ser estranho para elas!"

E quão estranho e complicado não são os nossos processos de se descobrir, re-descobrir e de se conhecer de novo? De ir mais a fundo em nós mesmos e confrontar e desconstruir tantas coisas que aprendemos durante a nossa vida, de ir contra as caixinhas que sempre nos empurraram antes mesmo de nós sabermos falar?
Não é uma questão de se tornar aliado ou engajado com as questões trans*, ou de entender profundamente os termos e definições ou a teoria queer.

É apenas uma questão de respeito.
Respeito é bom e todo mundo* gosta.

"When someone identifies as transgender in any way, you refer to them according to the gender they wish to express. Its called respect."

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Dor invisível da invisibilidade

Se somos todos humanos, por que há então "condições" que são aceitas e outras não?

Esse foi um dos questionamentos que surgiu quando eu "revelava" minha identidade para uma amiga próxima.
Revelava entre aspas por quê? Por que isso não deveria ser algo tão "exótico", tão marginalizado a ponto de ter que ser escondido, enterrado dentro de nós. Não-binário é só mais um jeito de ser humano, de ser uma pessoa.
Por quê então o choque quando há revelações do tipo "sou homossexual/sou transgênero"?

POR QUÊ EXISTEM NORMAS.

Normas estas ditadas para nós desde de quando estamos sendo gerados. Nossos nomes são decididos, que cores devemos usar, o que nós teremos como profissão futura, está tudo ali, definido antes de nós sequer existirmos. Normas decididas por outrem, que insistem em colocar longe de nós, que insistem em dizer "essas normas são exteriores a nós, devemos apenas seguí-las em silêncio e aceitá-las e reproduzir isso para toda a sociedade, pois este é o padrão."

Daí então, quando você decide ser você mesmo, tomar controle da sua identidade, parece que todas as pessoas ao seu redor levam um choque de realidade. Ou pelo menos 99% delas, por quê eu pelo menos tive a sorte de ter gente que me entende e me apóia por perto.

Mas ser invisível dói.
Dói, por quê você tem que usar uma máscara de uma carne que não é sua, que não lhe pertence.
Dói ter que engolir as normas cis que empurram pra cima de nós.
Dói, pra mim, ter que discutir com pessoas próximas por quê elas simplesmente se recusam a me tratar do jeito que eu quero.
Dói ter que usar uma disfarce que não representa quem eu realmente sou, como eu realmente me sinto.
Dói quando eu me olho no espelho e não vejo minha imagem lá.
Dói quando as pessoas assumem coisas sobre mim pelo fato do meu corpo ser de mulher.
Dói não ter o seu eu reconhecido como igual, dói, dói e dói.

Mas essa dor ninguém vê, pois é a dor de um ser invisível.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os dias disfóricos

Meu humor é uma variante constante... Nesse exato momento eu sou apenas confusão. Uma construção feita de confusões.
Tem dias que eu acordo me sentindo perfeitamente bem com meu "eu" biológico, por assim dizer. Mas também existem dias que eu sou simplesmente disforia, que tudo em mim grita "me tira desse corpo agora!" e tem as malditas reações de rejeição. Urgh.
Que desgosto! Que martírio! E esses dias nem sequer avisam quando chegarão. Apenas aparecem, causam estrago e vão embora. Nem sequer em intervalos regulares, por quê se fosse, eu teria um jeito de me aguentar mais durante essas fases.
Incrível que, durante esses dias, eu não consigo conviver direito com as pessoas. Digo, eu não tenho paciência, ânimo nem nada para interagir com elas. E apesar disso, eu me sinto muito solitári_. (Mudando de pronomes e adjetivos, pera aí.)
Aquela sensação de solidão de não ter alguém para falar sobre essa disforia e as questões de gênero, de não ter alguém para dar um alívio, um conforto... A realidade é que tenho apenas uma amiga com a qual eu consigo falar tranquilamente sobre o assunto.
Já tentei falar com alguns outros poucos amigos sobre, mas não foi uma experiência muito feliz. Mas a realidade é que me faz falta um confidente que seja como eu, digo, seja trans* não-binário.

Tem um grupo muito simpático no Facebook de GQs, N-b e Batatinhas, mas ainda não peguei amizade forte com ninguém... Mas pelo menos lá eu posso falar como eu realmente me sinto sem ninguém ficar falando que eu estou errad_, ou isso e aquilo.

Recentemente tenho visto muito a palavra "trigger" por lá, e acho uma expressão muito válida.
Vou me apropriar do termo {?} e dizer que meus "triggers" de disforia disparam loucamente em diversas situações, mas uma tem me chamado muito a atenção ultimamente, que é a disforia desencadeada pelo contato/proximidade com objetos/símbolos e pessoas que se encaixem na caixinha do "feminino", pois isso me lembra da suposta obrigação que eu tenho de ser "uma moça delicada, comportada, arrumada e meiga que faz tudo o que se espera de moças normais e saudáveis da minha idade". Quanto menos eu lembrar disso, melhor pra mim. Como eu disse no post anterior, estou começando a ficar com raiva e ódio disso. Não sei se alguém já passou por algo assim, mas independente do quê, o ódio é sempre algo que acaba com as nossas energias. É triste.

E eu ainda não criei coragem pra comprar roupas "masculinas" (são só roupas, qualé.) para mim. Eu sei modelar e costurar roupas, mas eu quero fazer essa experiência, só não criei coragem. Sempre achei camisas "masculinas" muito mais legais. Aliás, o vestuário "masculino" sempre me atraiu mais, mas por motivos de família, sempre usei roupas femininas, por mais largas e desleixadas que fossem.
Fazer essa experiência, penso eu, seria uma forma de dizer "eu existo, sou real, não sou invisível e há muitos outr_s como eu por aí", uma forma de "validar" quem eu sou... Não que eu seja uma farsa, mas seria uma pequena vitória pessoal, quase como dizer "Ei, eu posso fazer isso!"

Felizmente, uma coisa que tem ajudado contra essa disforia é o uso dos pronomes no masculino! Eu ainda fico meio nervos...o na hora de usá-los, por isso ainda só os uso com a minha amiga e aos poucos, usando eles no grupo das Batatinhas. Outra pequena vitória pessoal.

Enquanto eu vou organizando a confusão dentro de mim, vou continuar escrevendo um pouquinho aqui e ali... Um dia eu realmente espero que eu consiga me entender por completo.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ódio contra caixinhas e contra quem personifica essas caixinhas. -Kyouzetsukan-


O ódio é uma palavra forte né? Talvez não seja exatamente ódio a palavra certa, pois sempre tenho a impressão de que o ódio está de alguma forma conectado com o amor, e tenho certeza de que não é amor que está relacionado ao que sinto em relação às caixinhas.
Ah, as caixinhas. Essas caixinhas nas quais todos tem que se encaixar. Estereótipos de feminino e masculino, padrões, normas. Feliz ou infelizmente a caixinha do estereótipo feminino nunca se encaixou direito ou mim. Melhor dizendo, eu nunca me encaixei nela. E depois de certa idade, você começa a saber algumas coisas sobre você mesmo, a saber, no meu caso, eu comecei a entender que não queria entrar nessa caixinha que você assinala "feminino" e pronto, acabou.
As vezes eu gostaria de viver em paz com o estereótipo feminino. Viver num estado de conflito interno é cansativo, desgastante.
Por vezes sinto que estou direcionando minha energia e meu tempo em coisas erradas, no entanto, desistir dessa batalha interna seria me acomodar. Aceitar silenciosamente às imposições do estereótipo e seguir a vida sob uma identidade falsa. Alguém que não é verdadeiramente o meu eu. Não agir também não é uma opção, pois de um jeito ou de outro, a identidade que você expressa influi diretamente no jeito que as pessoas vão te tratar, influi na sua vivência diária.

Gênero não é só uma construção social. É isso e algo mais, algo próprio, inato de cada pessoa. É como se fossem "um senso sobre si mesmo". Partes da identidade são obviamente construídas e moldadas, mas sempre haverá aquela parte que é única, própria, individual e essencial de cada pessoa. Como você é, como se enxerga, como age, como reage, como se porta...

O que tem acontecido recentemente, uma forma bem pronunciada, é uma "reação de rejeição" (gosto de falar "kyouzetsukan", que seria o mesmo termo, só que em japonês.) as coisas que são ou fazem parte do estereótipo feminino. Isso se estende também até mesmo a pessoas e personagens que de alguma forma carregam algum símbolo feminino em si. Tudo o que consigo dizer é "Eu odeio isso."
Não sei explicar direito o por quê disso. Eu simplesmente estou rejeitando tudo o que é "demasiado feminino". Acontece que meus padrões são um tanto sensíveis, e por vezes essa reação de rejeição acaba sendo "um pouco forte demais". Tenho a impressão de que as características comumente atribuídas ao lado feminino, como delicadeza, meiguice e afins me irritam de tal modo a acabar repudiando tudo. Também me corrói internamente algumas idéias acerca do que é ser mulher e como as mulheres são vistas no meio da sociedade. Todas essas coisas me fazem pensar que eu realmente não gosto desse rótulo, dessa condição de mulher, de "pertencer" ao gênero feminino. Penso que a tal "objetificação" do corpo feminino, entre outros fatores meus, contribuam para isso. E eu realmente não quero acabar como um "objeto de consumo" ou algo semelhante. Entra aí um pouco o ódio do próprio corpo, da disforia.

Talvez, somente talvez, pelo fato da rejeição ser por conta da questão de gênero e, sendo o gênero uma construção extremamente complexa e única, a explicação pro meu ódio também seja complexa e única, de tal forma de é realmente complicado tentar descrevê-la de forma mais universal, que dê para quem ler esse texto, entender de imediato. Ou talvez eu esteja num estado tão imerso nessa situação de rejeição toda, que eu não esteja achando as palavras.
Eu odeio aquela ideia de que "você nasceu num corpo feminino, então você deve ser meiga, delicada, gostar de rosa, vestidos" e todas essas restrições babacas. E reação de rejeição age de tal forma que, qualquer imagem que invoque essa ideia de "corpo feminino = delicadeza" ou qualquer outro atributo, eu acabo rejeitando tal imagem. E como eu disse, não se limita apenas a imagens. Se extende a vários campos, seja ações do dia-a-dia, personagens, objetos e até mesmo pessoas. Não é uma reação generalizada e totalmente manifestada, do contrário provavelmente estaria me mutilando ou fazendo qualquer coisa assim, mas ela sim se faz presente por meio de pensamentos ininterruptos e conectados uns aos outros que vão se acumulando e acabam culminando como desenhos ou textos.

Não sei, esse é o meu jeito de me livrar essa toxicidade toda.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Aleatoriedades.

Relatos cotidianos e não tão cotidianos assim.

Certos fatos acontecem a nós para provar coisas sobre nós mesmos. Outros acontecem simplesmente para te dar um tapa na cara, um chute nas canelas.
Acontece que há aproximadamente 2 semanas que um episódio me deixou com nojo extremo da minha pessoa. Esse tipo de episódio tira de mim qualquer esperança de querer acreditar que as pessoas tem algum tipo de bom senso. Isso me fez pensar: Será mesmo que existem pessoas que usam as outras como um trampolim emocional? Quero dizer, usam as pessoas pra se sentirem melhores, pra não se sentirem "perdedores" por quê estão sozinhos ou sei lá o que?
"Chega uma hora na vida que a gente tem que tentar, né."
Por favor. Que nojo. Tentar o que, meu caro? Tenho cara do que? Só por quê eu nasci num maldito corpo de mulher, as pessoa acha que pode dizer um absurdo desses? Que nojo. Que nojo. Só isso que tenho a dizer.
Isso só me fez ter mais certeza: Eu não sou do gênero feminino.
E isso tem sido um bom exercício. Uma vez que você aprende mais sobre si, você para de fazer suposições sobre as outras pessoas. Uma maior busca de compreensão sobre si mesmo tem esse efeito: Você se importar mais consigo, e pára de julgar a vida alheia. Pouco a pouco, estou tentando me entender, tentando entender por quê eu sou assim, o que me levou a ser assim. Qualquer dia desses eu farei uma experiência, e escrevei um relato sobre.

Outra coisa.

Conceitos de masculino e feminino sempre foram muito tediosos e desnecessários para mim. Idem machismo e feminismo. Para mim todos são seres humanos e fazem o que bem entendem, podem perfeitamente fazer qualquer coisa, sem essa rotulação de "isso é de meninos, isso é de meninas." Isso me entedia profundamente.

Acho que era só isso que eu tinha para escrever hoje.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O que é Neutrois?

"Espero que você mantenha seu blog, pois essas informações não estão disponíveis em muitos idiomas, mas deveriam estar."

E isso é um fato que eu constatei enquanto procurava informações sobre Neutrois/Gênero Neutro em português. Encontrei vários sites e blogs sobre transgênero FTM e MTF, mas pouca informação sobre neutrois. Talvez eu tenha procurado errado, talvez não, mas eu espero que meus posts possam ser encontrados por alguém e serem úteis, assim como eu encontrei o Neutrois Nonsense (http://neutrois.me).

O que é neutrois

Neutrois cai sob a definição de "genderqueer", ou seja, quaisquer identidade de gênero que não se encaixam na dicotomia do masculino/feminino (gêneros não-binários). Quaisquer identidade que tendam mais para um lado ou para outro, aquelas que não tem tendência nenhuma ou que variam entre esses dois extremos podem ser chamados de Genderqueer.  O meu foco aqui é o Neutrois.
Neutrois são aqueles que não se correlacionam com o gênero feminino e nem com o masculino. Seja por não se identificarem com o gênero atribuído no nascimento (do inglês: Gender Assigned at Birth, sigla: GAAB) ou por destoarem dos modelos sociais se cada gênero ou por quaisquer outros motivos, afinal cada indivíduo é único, portanto são também suas razões.
Alguns neutrois se definem como "sem gênero", já outros enxergam o neutrois como um terceiro gênero.

A pessoa neutrois não necessariamente precisa passar por procedimentos cirúrgicos ou por terapia hormonal. É o mesmo caso das pessoas trans* que migram de um gênero para o outro: Nem todos optam pela transição completa, já que alguns se sentem felizes só com a terapia hormonal, outros consideram um risco de saúde desnecessário ou não podem bancar o procedimento.
Alguns se questionam "E a disforia?"
Eis aí outra questão que parece nebulosa, mas é de fato simples: Você não precisa ter passado por uma disforia grave, seja ela social ou física para querer uma transição ou então se descobrir como transgênero. Alguns não se alinham com o seu GAAB, mas não sentem necessidade de transicionar fisicamente. Alguns assumem uma expressão mais adequada ao seu eu interior.

A descoberta da identidade é algo pessoal e único, portanto não é possível falar sobre todas as identidades, já que ela diz respeito apenas ao próprio indivíduo e essa jornada deve ser trilhada com grande paciência e compreensão. Descobrir coisas novas nem sempre é uma experiência agradável, muitas descobertas causam medo, assustam, mas tudo deve ter o seu tempo. Buscar informações, compreensão e apoio é apenas o início.

domingo, 18 de agosto de 2013

What the hell are you?

True Neutral to the Core.

A expressão "True Neutral" dos "Character Alignments" ganhou um novo significado.
Identidade e disforia de gênero é algo que eu tenho enfrentado faz algum tempo. Se pensar bem, acho que desde eu estava sendo gerada, eu tinha esse fardo em mim. Afinal, nascimento é sempre uma expectativa, certo? Quem nunca viu e ouviu aquelas falas emocionadas "Ah, meu filho/filha vai ser médico/advogado" "vai ser isso e aquilo", que atire a primeira pedra. Acho que todo mundo conhece pelo menos uma pessoa que está fazendo determinado curso na faculdade por quê os pais obrigaram a tal, ou trabalham em determinada área por ser negócios de família.
Pois bem, desde pequena minha mãe me rodeava de bonecas, vestidos rodados, laços e fitas e todas essas coisas tidas como "coisas de menina". A verdade é que eu nunca liguei muito pra essas coisas. Desde onde eu me lembro, sempre preferi sair correndo pra brincar de esconde-esconde, gostava de imitar golpes dos Power Rangers, YuYu Hakusho, soltar Kamehameha... Enfim. Detestava brincar de "casinha". Uma vez eu tentei, na pré-escola, e acabei sendo "o pai". Mas eu não tinha a mínima noção de como era um pai, o que um pai fazia, como um pai agia. Eu não gostava quando minha mãe fazia escova no meu cabelo ou então amarrava ele num rabo-de-cavalo super alto (ela puxava tanto que doía, quando desamarrava o cabelo, parecia que meu rosto iria parar no chão), tampouco gostava de cor-de-rosa. Detestava essa cor. E, consequentemente, desde de que me lembro desses fatos esparsos da vida, bem me lembro de comentários não só por parte de minha mãe, mas também por outras pessoas pouco tinham a ver com a minha vida, comentários esses que sempre seguiam a mesma linha: "Você tem que ser mais mocinha". Minha avó adorava, ou tinha/tem uma obcessão em me comparar com a neta de uma amiga dela. Frases iam desde "Ela sabe tão bem japonês, e você não" até "Você tinha que ser como ela, ela é inteligente, delicada, educada."
Em uma certa ocasião quando eu tinha entre 5 e 8 anos, eu estava em casa, de tarde, assistindo um filme. Se não me engano, acho que era Rambo. Risos. Enfim, lembro de uma cena que ele saiu correndo loucamente na selva, driblando e matando muitos inimigos no caminho, correndo com uma metralhadora. Eu não sei, não entendo, mas eu tinha achado aquela cena tão, mas tão legal, que eu quis fazer o mesmo. Eu, na minha inocência pueril, querendo imitar a cena do filme, peguei um colete de moletom, um cabo de vassoura e saí correndo pela casa assim: Bermuda, colete e cabo de vassoura, imitando o som de tiros com a boca, até que peguei a mangueira de casa, que tinha aqueles jatos que tinham um gatilho pra ativar e acabei molhando a roupa toda. Minha mãe, diante da cena, surtou: "Menina, por quê você tá pelada? Você não pode fazer isso! Você é mocinha! Vai se secar e coloca uma camiseta agora!". Eu então, não tinha entendido o por quê de tanto desespero. Quer dizer então que eu não podia imitar o herói do filme por quê eu era uma menina? Aquilo era legal. Queria dizer então que eu não poderia fazer coisas legais só por quê eu era menina? Mãe insistia em comprar roupas "da modinha" pra mim. Peguei ódio desta palavra. Daí então só me lembro das constantes "suaves" reclamações com meu jeito de ser: "Você anda parecendo um muleque", "você anda toda torta", "você parece um mendigo" (Nota: Usando calça jeans, all-star e camiseta.), "por quê você não usa salto, um vestidinho, uma saia? Tem que mostrar suas pernas". Daí então eu peguei ódio das minhas pernas.
Porém, existem duas fatídicas e cruciais frases: "Você nasceu no corpo errado" e "Eu queria ter uma filha pra ser delicadinha, pra eu poder colocar lacinho e vestidinho, enfeitar, ser mocinha, ser amiga minha."

"Boom!" - No dia que ouvi essas duas frases, algo fez um click e explodiu dentro de mim.
Comecei a odiar tudo que fosse relacionado a feminilidade, a delicadeza, tudo que fosse tipicamente coisa de menina. Bom, nunca fui inclinada para esse lado mesmo, mas nesse dia eu realmente passei a odiar tuodas essas coisas. Odiava a "Identidade Feminina". Odiava o fato das pessoas acharem que podiam me dizer como ser, agir, falar por causa do meu corpo. Não, eu não quero ter cabelo comprido e enrolado só por quê você quer. Não, eu não vou usar salto alto, aquilo me machuca e faz mal pros meus joelhos. Não, não vou usar vestidos e saias curtas, não vou mostrar minhas pernas pra ninguém. Não vou usar rosa. Não vou usar maquiagem. Não vou falar baixinho e fininho. Não vou fazer de conta que sou meiga e delicada, por quê eu não sou.

O tempo passou e essa questão perdeu sua força, mas ainda era algo importante para mim. Afinal, isso diz diretamente respeito a minha identidade, a minha expressão, ao meu jeito de ser. Querendo ou não, todos esses fatores me levaram a uma necessidade de me "expressar visualmente", e claro que isso incluiu a imagem que faço de mim mesmo. O jeito que você se expressa através de vestimentas transmite informações poderosas para quem está ao redor. Roupa, no fim das contas, é só uma materialização de vários conceitos que a pessoa carrega em si. Pelo menos esse é o meu ponto de vista.
Passei por fases e fases, ora tentando me "encaixar/encontrar" no gênero feminino, ora no gênero masculino. Não me adaptava a nenhum deles. Delicada demais pra ser do gênero masculino, agressiva e desprimorada demais para ser do gênero feminino. Não sei quem foi o infeliz que separou adjetivos como sendo próprios e únicos de cada gênero, mas ok. Tamanha era a estranheza, a necessidade de achar um lugar para ficar, que tentei me adaptar. Tentei repetidas vezes, todas frustradas. Fui prosseguindo sendo quem eu sou, porém sentia um desconforto. Eu preciso de conceitos. Preciso contextualizar todas as coisas, inclusive a mim mesma. Parece contraditório, pois ao mesmo tempo que fujo de dois rótulos, eu procuro um para mim. Porém, busco um conceito que me ajude a me definir, a me identificar corretamente.

E agora, eu tenho esse conceito.

Eu sou da parte cinza.
Não sou da parte rosa e nem da azul.
Estou no meio.
Mas posso tender mais para um lado ou para o outro.

And I would like to be treated as I am.
Don't treat me as a woman, because I'm not.
Don't assume I'll behave like a woman, because I'll not.
Don't treat me as a man, because I'm not.
Don't assume I'll behave like a man, because I'll not.
I am neutral. I am Neutrois. I am Gender Fluid. I am myself.
I am a True Neutral. Not Good, Not Evil; Not Lawful nor Chaotic.
Neutral.
To the Core.


---


Would you to like to know more:

http://neutrois.com/what-is-neutrois/
http://genderqueerid.com/what-is-gq
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http://neutrois.me/neutrois/