domingo, 1 de dezembro de 2013

Sobre o respeito (ou a falta dele)

Algumas pessoas simplesmente não se dão conta.
O "coming out", revelar sua identidade, não é um processo simples. Muitas vezes se torna algo torturante, doloroso, até mesmo agonizante. Fica aquele impasse "mas e se eu não contar, eu não estaria mentindo pra essas pessoas?" (as pessoas mais próximas de nós) contra "Mas se eu contar, será que elas vão se afastar de mim?"
Mas o problema é: Não temos como saber se não perguntarmos. Dá pra sondar, falar por cima, mas a reação das pessoas é sempre algo imprevisível. Você pode até imaginar, mas nunca terá certeza se não perguntar efetivamente.
Acho que o momento que você diz pra alguém sua a sua identidade é como uma roleta russa: Você está apontando um cano de arma para si mesmo. Se o gatilho vai disparar ou não, acaba dependendo da reação da pessoa.
Infelizmente não é só nesse momento que o trigger fica apontando na sua direção. Todo momento de interação com as outras pessoas pode ser um possível momento que o gatilho vai disparar. Tem dias que controlamos isso. Outros dias, não. Basta um artigo, pronome errado e tudo explode.

Algumas vezes acontece das pessoas que sabem da minha ID trans* n-b errarem os pronomes e tudo o mais, e eu acabo relevando. A força do hábito é maior do que a gente pensa.
Mas isso não deixa de ser uma falta de respeito... Acontece que alguns dias eu não quero gastar minhas energias discutindo sobre.

Não tratar uma pessoa trans* pelos pronomes e pelo nome social (o nome que a própria pessoa escolhe para ela) é falta de respeito.
É a mesma falta de respeito de quando alguém te chama por um apelido que você não gosta ou te xingam.
E fica pior ainda quando a pessoa tem resistência ou simplesmente se recusa a te tratar pelo jeito certo.

"Ah, mas deve ser estranho para elas!"

E quão estranho e complicado não são os nossos processos de se descobrir, re-descobrir e de se conhecer de novo? De ir mais a fundo em nós mesmos e confrontar e desconstruir tantas coisas que aprendemos durante a nossa vida, de ir contra as caixinhas que sempre nos empurraram antes mesmo de nós sabermos falar?
Não é uma questão de se tornar aliado ou engajado com as questões trans*, ou de entender profundamente os termos e definições ou a teoria queer.

É apenas uma questão de respeito.
Respeito é bom e todo mundo* gosta.

"When someone identifies as transgender in any way, you refer to them according to the gender they wish to express. Its called respect."

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