quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os dias disfóricos

Meu humor é uma variante constante... Nesse exato momento eu sou apenas confusão. Uma construção feita de confusões.
Tem dias que eu acordo me sentindo perfeitamente bem com meu "eu" biológico, por assim dizer. Mas também existem dias que eu sou simplesmente disforia, que tudo em mim grita "me tira desse corpo agora!" e tem as malditas reações de rejeição. Urgh.
Que desgosto! Que martírio! E esses dias nem sequer avisam quando chegarão. Apenas aparecem, causam estrago e vão embora. Nem sequer em intervalos regulares, por quê se fosse, eu teria um jeito de me aguentar mais durante essas fases.
Incrível que, durante esses dias, eu não consigo conviver direito com as pessoas. Digo, eu não tenho paciência, ânimo nem nada para interagir com elas. E apesar disso, eu me sinto muito solitári_. (Mudando de pronomes e adjetivos, pera aí.)
Aquela sensação de solidão de não ter alguém para falar sobre essa disforia e as questões de gênero, de não ter alguém para dar um alívio, um conforto... A realidade é que tenho apenas uma amiga com a qual eu consigo falar tranquilamente sobre o assunto.
Já tentei falar com alguns outros poucos amigos sobre, mas não foi uma experiência muito feliz. Mas a realidade é que me faz falta um confidente que seja como eu, digo, seja trans* não-binário.

Tem um grupo muito simpático no Facebook de GQs, N-b e Batatinhas, mas ainda não peguei amizade forte com ninguém... Mas pelo menos lá eu posso falar como eu realmente me sinto sem ninguém ficar falando que eu estou errad_, ou isso e aquilo.

Recentemente tenho visto muito a palavra "trigger" por lá, e acho uma expressão muito válida.
Vou me apropriar do termo {?} e dizer que meus "triggers" de disforia disparam loucamente em diversas situações, mas uma tem me chamado muito a atenção ultimamente, que é a disforia desencadeada pelo contato/proximidade com objetos/símbolos e pessoas que se encaixem na caixinha do "feminino", pois isso me lembra da suposta obrigação que eu tenho de ser "uma moça delicada, comportada, arrumada e meiga que faz tudo o que se espera de moças normais e saudáveis da minha idade". Quanto menos eu lembrar disso, melhor pra mim. Como eu disse no post anterior, estou começando a ficar com raiva e ódio disso. Não sei se alguém já passou por algo assim, mas independente do quê, o ódio é sempre algo que acaba com as nossas energias. É triste.

E eu ainda não criei coragem pra comprar roupas "masculinas" (são só roupas, qualé.) para mim. Eu sei modelar e costurar roupas, mas eu quero fazer essa experiência, só não criei coragem. Sempre achei camisas "masculinas" muito mais legais. Aliás, o vestuário "masculino" sempre me atraiu mais, mas por motivos de família, sempre usei roupas femininas, por mais largas e desleixadas que fossem.
Fazer essa experiência, penso eu, seria uma forma de dizer "eu existo, sou real, não sou invisível e há muitos outr_s como eu por aí", uma forma de "validar" quem eu sou... Não que eu seja uma farsa, mas seria uma pequena vitória pessoal, quase como dizer "Ei, eu posso fazer isso!"

Felizmente, uma coisa que tem ajudado contra essa disforia é o uso dos pronomes no masculino! Eu ainda fico meio nervos...o na hora de usá-los, por isso ainda só os uso com a minha amiga e aos poucos, usando eles no grupo das Batatinhas. Outra pequena vitória pessoal.

Enquanto eu vou organizando a confusão dentro de mim, vou continuar escrevendo um pouquinho aqui e ali... Um dia eu realmente espero que eu consiga me entender por completo.

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